"Se tivéssemos sido campeões, o título também teria sido justo"
Há quem lhe chame fífias, talvez pela maneira com zigue-zagueia entre
os adversários, sempre com a bola controlada. Hoje, aos 32 anos, Nuno
Marcos é dos símbolos do Sabugal de Manuel Barbosa, pelo que rende
dentro das quatro linhas, e pela postura séria com que aborda todos os
desafios. Foi este o "melhor jogador em campo" para o Jornal Nova
Guarda.
Nova Guarda (NG) - Ao longo da última época foi eleito oito vezes
melhor jogador em campo pelo Jornal Nova Guarda, num ano em que
curiosamente alinhou preferencialmente sobre o flanco esquerdo. Acha
que o facto de ter jogado nessa posição beneficiou o seu rendimento?
Nuno Marcos (NM) - Gosto de actuar sobre o lado esquerdo, embora no
início da época tenha começado a actuar como ponta-de-lança, mas,
sinceramente, não gostei muito de estar metido no meio dos centrais.
Depois, vim jogar para o meio campo, e como sou um jogador que gosto
de ter a bola no pé acho que rendi mais do que no centro do ataque.
NG - Sendo destro, sentiu-se bem a jogar pelo flanco esquerdo?
NM - Apesar de utilizar preferencialmente o pé direito, tenho
facilidade em recorrer ao pé esquerdo, portanto considero que jogo bem
com os dois pés, o que favorece a minha condução de bola e permite-me
sair de situações complicadas com a bola controlada.
NG - Considera-se um dos melhores jogadores do distrital?
NM - Não, nem me considero um dos melhores da equipa muito menos do
distrital. Esta época, apesar de ter estado várias vezes lesionado,
acho que fiz uma boa época e ajudei a equipa. Além deste tinha outro
grande objectivo que era não ser admoestado com cartões amarelos.
Levei dois, para a próxima época quero ver se consigo ficar "em
branco" em matéria de cartões.
NG - Que análise faz à performance do Sabugal na última época?
NM - Penso que na última época o Sabugal teve uma das melhores equipas
dos últimos anos. Vieram dois bons jogadores, Faneca e o David, que
fizeram com que a equipa tivesse mais qualidade e mais valor. Já tinha
trabalhado antes com o Manuel Barbosa, aquando da sua primeira
passagem pelo Sabugal, e o Zé Carvalho revelou-se uma mais-valia para
o Sabugal.
NG - Mas não acha que a equipa, apesar de ter disputado o título até à
última jornada, podia ter conseguido o título?
NM - No balneário todos os jogadores queriam ganhar, mas o nosso
grande objectivo vai ser na próxima época, já que no ano passado não
entramos com o objectivo centrado no título. Queríamos ficar nos cinco
primeiros lugares, e com o decorrer do campeonato, como nos mantivemos
na frente, lutámos pelo título até à última jornada.
NG - Que opinião tem das equipas que terminaram o campeonato à frente
do Sabugal?
NM - Juntamente connosco, foram as melhores equipas do campeonato. A
Mêda foi um justo vencedor, o Aguiar tinha uma equipa muito jovem, e
com muita qualidade. O campeonato foi muito disputado até ao fim, mas
se o título tivesse caído para Aguiar ou para o Sabugal o vencedor
também teria sido justo, já que foi um ano muito equilibrado, onde os
primeiros foram algo irregulares, já que desperdiçaram muitos pontos
que normalmente não perdem.
NG - Concorda que o facto de a equipa sentir dificuldade em marcar
golos contribuiu para que a equipa não fosse campeã?
NM - Sim, sem dúvida. Com uma defesa como a nossa, que não consentia
grandes oportunidades aos adversários, se fossemos mais eficazes
ofensivamente teríamos trilhado um caminho melhor. Normalmente éramos
muito fortes nas primeiras partes, onde praticávamos bom futebol, mas
depois não conseguíamos marcar, e, por isso, na segunda parte,
tínhamos que andar atrás do prejuízo, e assim era muito mais complicado.
NG - Qual foi o jogo que mais o marcou? Porquê?
NM - Foi o jogo em casa com a Mêda. Porque tínhamos seis jogadores,
que normalmente fazem parte da equipa titular, lesionados ou
castigados. Além disso, foi um sofrimento porque logo à meia hora de
jogo o Tó Zé foi expulso, na segunda parte também foi expulso o Rato,
e acabamos por marca no último minuto e ganhar o jogo, e aí foi uma
festa.
NG - Na próxima época, acha que o título tem que ser o principal
objectivo da equipa?
NM - É difícil comentar essa situação, porque ainda não sei quais são
os reforços do Sabugal. Mas se tivermos em conta que neste último ano
andamos sempre nos lugares da frente, portanto, na próxima época, se a
direcção assim o entender, podemos lutar por um lugar ainda melhor do
que aquele em que terminámos este ano. Os jogadores estão prontos para
lutar até à exaustão, e apesar de podermos sentir algumas dificuldades
a nível defensivo, devido à saída do David e do Rato, a estrutura
mantém-se, e com mais alguns jogadores, vamos disputar cada jogo até
ao fim.
NG - Pensa que a pressão de ganhar pode prejudicar a equipa?
NM - Já este ano, em alguns jogos, a equipa denotou alguma pressão.
Queríamos fazer as coisas depressa e bem, e isso não é a melhor forma
de fazer as coisas. O público foi o grande suporte da equipa, porque
desde que estou no Sabugal, este foi o ano em que senti mais apoio. O
nosso público estive sempre connosco, nunca nos abandonou.
NG - Mesmo tendo em conta o facto de a equipa ter perdido jogadores
importantes como David Reis, lateral-esquerdo que foi um dos jogadores
mais regulares da equipa na última época?
NM - Depende também de que venha para o Sabugal na próxima época.
Estou certo que os responsáveis estão a construir um bom plantel, e
certamente que estas saídas vão ser colmatadas com jogadores de
qualidade, para que a equipa esteja forte.
NG - Que equipas podem competir com o Sabugal?
NM - O Aguiar da Beira, sem dúvida, é um dos grandes candidatos à
vitória final. O Foz Côa, que já na última época tinha uma grande
equipa, e o Figueira que é sempre uma equipa a ter em conta, e quando
ninguém esperava realizaram um bom campeonato.
NG - Qual foi a equipa que mais o surpreendeu este ano?
NM - O Aguiar da Beira. Gostei muito do futebol que eles praticavam,
principalmente em casa, onde eram muito fortes. Normalmente entravam
muito fortes nos jogos, e isso dificultava e muito a vida aos
adversários.
NG - E que mais a decepcionou?
NM - Talvez o Manteigas. Não estava à espera que fizessem um
campeonato tão irregular. Tinha a ideia, apesar de todas as
dificuldades que estavam a atravessar, que pelo menos os jogos em casa
iam ganhar. Isso não aconteceu, porque também passaram uma época de
muita instabilidade, e isso prejudicou gravemente a equipa.
NG - Sabendo que vai ser distinguido pelo Jornal Nova Guarda com o
troféu de melhor jogador em campo da última edição do campeonato
distrital, a quem é que dedica este prémio?
NM - Em primeiro lugar à minha família, porque apesar de não sermos
profissionais, eles sofrem muito com a nossa ausência. Passam
fins-de-semana sozinhos, sem a nossa companhia, jantam sem nós e isso
é muito complicado. Depois, dedico também à equipa, porque se fui
várias vezes o melhor em campo, devo-o também aos colegas de equipa.
NG - Que sonhos tem para a próxima época?
NM - Um deles é não levar cartões (risos). Vou tentar fazer melhor que
no último ano.
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